domingo, 23 de outubro de 2011

Mais crianças com doenças de adultos

Enfermidades como diabete, obesidade e até osteoporose têm se manifestado na infância com maior frequência.

Antonio More/ Gazeta do Povo / Emanuele tem 7 anos, mas  apresentou os  sintomas da artrite juvenil  antes dos primeiros 12 meses de vida

Emanuele tem 7 anos, mas apresentou os sintomas da artrite juvenil antes dos primeiros 12 meses de vida


Doenças que antes atingiam apenas adultos e idosos começam a aparecer precocemente na infância devido a maus hábitos de vida. Hipertensão, obesidade e diabete se transformaram em um problema de saúde pública porque crianças e jovens têm se alimentado inadequadamente e são sedentários. Embora pareça um contrassenso em uma sociedade que está ficando mais longeva, os meninos e as meninas de hoje estão mais expostos a patologias antes restritas à idade adulta.

A obesidade entre jovens brasileiros aumentou 239% nos últimos 20 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje, 35,6% das crianças com 9 anos estão acima do peso e 12,2% são consideradas obesas. Como a gordura corporal está associada a diversas patologias, meninos e meninas começam a ser vítimas de “novas” doenças. E mais: as patologias poderiam ser revertidas com simples alterações, como alimentação saudável e atividade física.

Outros dados também confirmam que as crianças brasileiras estão menos saudáveis. A diabete tipo 2 – ocasionada pelo excesso de gordura, que prejudica a absorção da insulina – está se tornando mais comum na in­­fância. Relatório da Federação In­­ternacional de Diabetes revela que, até 2025, 380 milhões de pessoas no mundo vão desenvolver o problema.

Há duas décadas, garotos e garotas com diabete apresentavam principalmente a do tipo 1, causada por um distúrbio genético. A doença do tipo 2 atingia apenas 3% das crianças doentes, mas as mudanças na alimentação e o sedentarismo fizeram com que o porcentual alcançasse 45% em alguns países desenvolvidos. A hipertensão infantojuvenil também preocupa. Um estudo realizado pela Universidade Federal da Bahia mostrou que 14% das crianças e adolescentes têm incidência de pressão arterial elevada. Foram avaliados 1.125 estudantes, entre 7 e 14 anos, da rede pública de ensino de Salvador.

Causas

O impacto que essa transformação pode causar é preocupante. Já no início da vida adulta, as pessoas poderão desenvolver enfermidades graves, como enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), hoje mais co­­muns na velhice. Se não tratados, problemas como hipertensão e diabete podem levar a uma existência à base de medicamentos e ao aumento do risco de mortalidade.

Coordenadora do Comitê da Criança da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Carla Lantieri explica que a hipertensão essencial – aquela que não está associada a outra doença, como patologias renais e endócrinas – e a diabete tipo 2 são desenvolvidas a partir de determinados fatores de risco, que podem ser modificáveis. “Obser­­vamos que a doença na fase adulta teve progressão silenciosa durante a infância,” diz Carla.

Nefrologista pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, Lucimary de Castro Sylvestre argumenta que a ciência precisará elaborar estudos para acompanhar o crescimento das crianças portadoras das “doenças de adultos” e avaliar os prejuízos para a saúde a longo prazo.

Cuidados
Problemas são reversíveis com mudança de hábitos

A diabete tipo 2 e a hipertensão podem ser revertidas facilmente se forem detectadas no início. Professora de pós-graduação em Nutrição Clínica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Caroline de Azevedo e Souza Netto diz que não é indicado usar dietas rigorosas para crianças. Geralmente há reeducação alimentar e os garotos e as garotas precisam apenas manter o peso, já que estão em fase de crescimento. “O emagrecimento é suficiente para reverter a diabete tipo 2, porque com a eliminação da gordura não há mais barreiras para a absorção da insulina”, explica.

Porta-voz da Sociedade Brasileira de Hipertensão, Frida Plavnik afirma que o paladar das crianças é moldado pelos pais, por isso a família precisam dar o exemplo. No início, a hipertensão pode ser tratada somente com mudanças alimentares e exercício físico, sem o uso de medicamentos. Frida diz que, se o problema for tratado adequadamente, meninos e meninas poderão ter uma vida normal no futuro. (PC)

Até 3% têm depressão
As crianças são vítimas de outras doenças do mundo adulto, como a depressão e o estresse. As duas enfermidades também estão associadas ao modo de vida moderno, em que o tempo parece insuficiente para atender a todas as demandas. Os meninos e as meninas acabam entrando no ritmo da família: além da escola, participam de dezenas de atividades – como aulas de inglês, natação, esportes – e ficam sem tempo para brincar.

A presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP), Darci Vieira Bonetto, afirma que a família acaba delegando as funções paternas para a escola ou para a tecnologia. “A depressão está relacionada com a pressão da família e da sociedade”, diz. A médica explica que é preciso ter atenção às mudanças de comportamento dos garotos e garotas e procurar ajuda. O tratamento pode incluir a terapia e, nos casos mais severos, até medicação.

Até a década de 70, acreditava-se que a depressão infantil era rara ou inexistente. Somente em 1975 o Departamento de Saúde Mental dos Estados Unidos reconheceu que a enfermidade atingia essa parcela da população. Estima-se que até 3% das crianças e 12% dos adolescentes tenham depressão.





Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1183758&tit=Mais-criancas-com-doencas-de-adultos

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